domingo, 4 de janeiro de 2015

Quinhentismo


Convencionou-se chamar de Quinhentismo tudo o que se produziu no Brasil no século XVI, século da nossa descoberta. O fato é que o Quinhentismo não constitui uma "escola literária" e a Carta de Pero Vaz de Caminha tem importância histórica, por ser a primeira e portanto mais importante referência sobre a origem e descobrimento do Brasil; e linguística, por se tratar do primeiro texto em Língua Portuguesa escrito em águas e terras brasileiras, sem possuir, no entanto, grande valor literário.

Ou seja, é uma literatura SOBRE o Brasil, de caráter meramente informativo. Dirigindo-se ao rei D. Manuel de Portugal, Caminha disserta com clareza e descritivismo acerca dos dias passados na Terra de Vera Cruz (primeiro nome do Brasil): O potencial da terra, tanto para mineração (Caminha relata não ter encontrado ouro ou prata, mas que os nativos indicavam sua existência) como para exploração biológica (fauna e flora) e humana, já que fala sempre em "salvar" os índios, convertendo-os ao Cristianismo.



"A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador."

"Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. (...) a terra toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. (...) Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!"

"Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente."

Os trechos acima revelam a influência da visão de mundo medieval (catequese) e eurocêntrica, por supor que os índios eram inferiores e precisavam de salvação por levar uma vida muito diferente da vivida pelos europeus. Além disso, há o nativismo, isto é, a apresentação de elementos constitutivos da fauna e da flora de um país, que, no Quinhentismo, funciona como um estímulo da parte de Caminha à colonização. O relato de Caminha é considerado a "certidão de nascimento" do Brasil e abre caminho para a vinda de uma série de documentos de cunho semelhante. Surgiu, por exemplo, a literatura de viagens, na qual viajantes ressaltaram aspectos exóticos do nosso país.


Em 1549, chegaram ao Brasil os jesuítas (a serviço da Coroa), com a missão de divulgar a fé, oferecer catequese aos índios e educação (ensinar a ler, escrever, contar). Destacam-se, entre eles: Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta, três dos principais responsáveis pela literatura jesuítica.

Do Santíssimo Sacramento
Oh que pão, oh que comida, 
Oh que divino manjar 
Se nos dá no santo altar 
Cada dia.
(...)
Ele dá vida imortal, 
Este mata toda fome,
Porque nele Deus é homem
Se contêm.
José de Anchieta

José de Anchieta é o único autor desta época cuja obra extrapola o caráter meramente histórico de, por exemplo, informar à coroa como estão os trabalhos na terra, e escreveu poemas épicos e líricos, autos, cartas, sermões e uma pequena gramática da língua tupi.

Ele se propôs ao estudo da língua tupi-guarani e é considerado o precursor do teatro no Brasil. Sabendo tirar proveito do fato de os indígenas gostarem de cantar e dançar, escreveu então peças teatrais usando um modelo tipicamente medieval, os autos (peça de teatro escrita em versos). Ele repartia o universo de suas peças em dois: o habitado pelos deuses do mal (os deuses dos indígenas), e o outro habitado pelo Bem, representado por Deus, pelos anjos e santos católicos. Na briga eterna entre o Bem e o Mal, vencia sempre o Bem, expressando assim a sua preocupação didática e moralizante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário