domingo, 4 de janeiro de 2015

Classicismo: Renascimento das Artes


Vimos anteriormente que o Humanismo foi a transição do pensamento medieval para o pensamento antropocêntrico. O antropocentrismo é uma doutrina segundo a qual o Homem é tomado como modelo de referência, como centro do universo, a medida de todas as coisas. No entanto, é importante ressaltar que este pensamento não rejeita Deus, apenas o põe em plano secundário, como se o foco agora fosse a Obra, e não o Criador.

Aliado ao Antropocentrismo estão o Individualismo e o Racionalismo da Antiguidade Clássica. O Individualismo dá valor ao homem como indivíduo e promoveu a individualização da arte. Deu-se o aparecimento de obras assinadas, criando, deste modo, uma ligação obra/autor. Promovido o interesse pelo Homem e suas potencialidades, foram descobertas novas técnicas (por exemplo, a da perspectiva). O Racionalismo alude ao pensamento crítico que tanto influenciou as obras renascentistas.

As Grandes Navegações enriqueceram as cortes, a burguesia nascente destituiu o modelo do escambo e criou a moeda e junto com ela veio a ideia do acúmulo de capital, da ascensão social, as operações bancárias se tornaram mais frequentes e prenunciaram o Capitalismo. A criação da imprensa possibilitou a disseminação de novas teorias, a nobreza incentivou as letras e as artes. Isto significou o desligamento da arte com a Igreja e possibilitou a descoberta de textos da Antiguidade clássica, que influenciou o pensamento antropocêntrico.



"Conhece-te a ti mesmo, ó criatura divina vestida em trajes humanos". (Ficino)

O Renascimento foi a época da crise do sistema feudal, da Peste Negra, da Guerra dos Cem Anos e do Cisma do Ocidente, que dividiu a Igreja. A Igreja sofreria ainda mais um golpe e se debateria com as críticas de Martinho Lutero em relação à corrupção de bispos, venda de indulgências (troca de moedas pelo perdão de Deus), entre outros. A Reforma Protestante significou uma cisão na fé cristã. A Ciência finalmente ganhava espaço.

Em meados do século XVI, o astrônomo Nicolau Copérnico divulgaria a teoria heliocêntrica, na qual demonstrou que o Sol era o centro do universo e não a Terra, como pregava o geocentrismo de Ptolomeu. Essa teoria, confirmada por Galileu Galilei, redimensionou totalmente a noção de universo e foi vista como uma afronta aos dogmas cristãos.

Na Pintura, os artistas procuravam representar a natureza rigorosamente. Surge o ideal do homem perfeito, da proporções, das formas e dimensões bem delineadas. Além do aperfeiçoamento da técnica da perspectiva já comentada, a descoberta do óleo de têmpera permitiu uma maior aproximação com o real. Um dos grandes nomes desta área foi Leonardo da Vinci, o homem que antecipou muitas descobertas como a do helicóptero, a do para-quedas e do tanque de guerra. Na escultura destacaram-se nomes como Michelangelo, Verrochio e Ghiberti e, na dramaturgia, é famoso o nome de William Shakespeare e seus temas universais, não importando o tempo histórico: Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos, etc.






O Classicismo é um movimento artístico estético renascentista que procura inspiração na antiguidade clássica greco-romana. O movimento dura até, pelo menos, 1580, quando um Portugal em crise é submetido ao domínio espanhol na chamada União Ibérica.

A seguir, algumas das principais características do movimento:
  1. Fusionismo: União da mitologia pagã com valores do Cristianismo.
  2. Resgate de elementos artísticos e valores da cultura greco-romana (busca da razão, por ex.)
  3. Nas telas, perspectiva e atenção às cores, novas técnicas, busca da perfeição estética e proporcionalidade. Na literatura, a mesma busca de perfeição das formas.
  4. Idealismo: Amor platônico, idealização da mulher e temas sensuais ou carnais.
  5. Valorização do bem, do belo, da verdade e do equilíbrio.
  6. Busca da métrica perfeita.
  7. Desconcerto do mundo: sentimento de inadequação.
  8. Em 1527, Sá de Miranda traz a Portugal a chamada "medida nova", o soneto. O soneto é uma composição fixa de 2 quartetos e 2 tercetos, em um total de 14 versos decassílabos e esquema rímico ABBA/ABBA/CDC/DCD. Embora os sonetos passem a ser a forma preferida dos classicistas, ainda se encontram textos dessa época na "medida velha", as redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas poéticas), então cuidado!


Amor é fogo que arde sem se ver; (A)

É ferida que dói e não se sente; (B)
É um contentamento descontente; (B)
É dor que desatina sem doer; (A)

É um não querer mais que bem querer; (A)
É solitário andar por entre a gente; (B)
É nunca contentar-se de contente; (B)
É cuidar que se ganha em se perder; (A)

É querer estar preso por vontade; (C)
É servir a quem vence, o vencedor; (D)
É ter com quem nos mata lealdade. (C)

Mas como causar pode seu favor (D)
Nos corações humanos amizade, (C)
se tão contrário a si é o mesmo Amor? (D)

Luís Vaz de Camões

É vidente que, além de Camões e Sá de Miranda, outros poetas fizeram parte do Classicismo lusitano: Bernardim Ribeiro, Antônio Ferreira, Fernão Mendes Pinto, Diogo de Couto e João de Barros.

Atenção: Se você tem problemas com esquema rímicos, classificação de sílabas poéticas ou algo do gênero, recomendo a leitura desta postagem aqui.

Resolvi por motivos estéticos fazer uma postagem apenas para falar de Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões.

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