domingo, 4 de janeiro de 2015

Barroco: Principais Expoentes


Sóror Mariana Alcoforado foi uma freira, que se envolveu amorosamente com um oficial da cavalaria francesa. Depois que ele retornou à França, ela lhe envia cinco cartas que ficaram conhecidas como Cartas Portuguesas. Dizem que ele traiu a confiança dela e as publicou.

Gira em torno da história dessas cartas uma polêmica a respeito de sua autoria. Elas foram publicadas pela primeira vez em 1669, em Paris. Nessa edição afirmou-se que seriam uma tradução de um autor anônimo, estratégia comum na época. Boissonade fez saber em 1810 que encontrou um manuscrito das cartas que indica que a autora era Mariana Alcoforado. 

Sua "obra" é uma epistolografia, escrita sob a forma de cartas.

Por que as cartas são consideradas do Barroco?

Porque a tensão do contexto histórico-cultural transparece claramente em alguns momentos nas cartas, sob a forma de contradições. Ela expressa seu amor de forma dual, desejando nunca tê-lo conhecido e se declara linhas depois, diz adeus e continua falando. Ainda assim, é preciso considerar que a temática do amor sem correspondência é atemporal, acontecendo em todos os estilos.

"Como é possível que lembranças de tão doces momentos se tenham tornado tão amargas? E que contra toda a natureza, sirvam somente para dilacerar-me o coração?
Pobre dele! A tua última carta pô-lo num estado singular: tais saltos me dava no peito que parecia forcejar por arrancar-se de mim e voar para ti."


Padre Vieira é um expoente tanto brasileiro como português do Barroco. Nascido em Lisboa em 1608, com sete anos de idade veio para o Brasil e entrou para a Companhia de Jesus.

Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Vieira é conhecido por seus sermões polêmicos em que critica, entre outras coisas, a tirania dos portugueses, os pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar e a própria Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando os horrores vivenciados por eles nas mãos dos portugueses. Por defender posições favoráveis aos índios e aos judeus, foi condenado à prisão pela Inquisição, onde ficou por dois anos.

Sua obra é composta por sermões; pregava de forma jesuítica, mas também de forma assustadora, intencionalmente, buscando estabelecer limites. Sua obra mais importante é O Sermão da Sexagésima, onde ensina aos jesuítas a arte de pregar em público e de encantar, em nome de Deus, os corações humanos. A função predominante é metalinguística, pois ele se utiliza do sermão para ensinar a pregar.

Padre Vieira se utiliza do Conceptismo: um jogo de argumentos, ideias e raciocínios a fim de convencer o leitor. Joga com conceitos e se utiliza de inversões sintáticas violentas, paradoxos e antíteses que dificultam a compreensão.

"Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador evangélico a semear" a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus ão só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. (...) Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (..)"


O Barroco no Brasil se iniciou em 1601, quando Bento Teixeira publicou um poema épico batizado de Prosopopeia, realçando os feitos do dono da capitania de Pernambuco. Nosso maior expoente, porém, é outro e tinha uma personalidade fortíssima. Trata-se de Gregório de Matos (foto acima), o "boca do inferno". Nascido na Bahia, Gregório de Matos ganhou este apelido por ter sido um crítico assíduo do seu tempo, dos corruptos e dos acontecimentos que assombravam a Bahia da época. Sua obra poética pode ser dividida em três fases:

  • Satírica: Ele não poupou nenhuma classe, pessoa ou função. Em especial, atacou o clero, as freiras, os mulatos e as autoridades, utilizando vocabulário debochado e rancorosos, africanismos e termos indígenas. Suas críticas exageradas são, certamente, uma herança barroca.

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.


  • Lírica: Expressa sentimentos pessoais em linguagem, não raro, dual. O homem daquela época expressava seus conflitos através do contraste e da dúvida.

Nasce o Sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, porque nascia? (dúvida)
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se trasfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? (sofrimento)

Mas no sol e na luz falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E, na alegria, sinta-se tristeza.

Começa o mundo, enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:

A firmeza somente na inconstância.

  • Religiosa: Feita no final de sua vida, ele mostra seu medo de morrer sem perdão. Muitas vezes se utiliza de uma "chantagem": Quanto mais pecados, mas perdão deveria dar ou desonraria o Evangelho.

Meu Deus, que estais pendente de uma madeiro,

Em cuja lei protesto de viver,

Em cuja santa lei hei de morrer

Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso cordeiro.

Mui grande é vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito

Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

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