domingo, 4 de janeiro de 2015

Barroco: Arte da Contrarreforma


O Barroco é uma reação ao Classicismo e seus ideais perfeccionistas e antropocêntricos. Após a explosão de luzes e beleza, acaba-se a euforia, resta a dúvida — conquistamos nosso lugar no mundo? Se o Homem é a medida de todas as coisas, então por que não tem as respostas, por que a única certeza que tem ao nascer é a de que um dia irá morrer?

É um período de reflexão. A palavra barroco significa "pérolas de forma irregular", uma oposição ao perfeccionismo renascentista. Em 1580, estoura uma crise política em Portugal com o desaparecimento do rei D. Sebastião em uma guerra, pois o rei morreu solteiro e sem deixar descendentes. O rei da Espanha D. Filipe II chegou a ameaçar os portugueses com seu exército e uniu os governos de Portugal e Espanha sob um único governo. O povo português, horrorizado, acaba por criar o sebastianismo, a crença de que o rei um dia irá voltar e tirar Portugal daquela situação humilhante.

Não bastasse isso, a Igreja Católica inaugurava o Tribunal da Santa Inquisição, que julgava e queimava os que julgava como hereges. A chamada Contrarreforma da Igreja foi uma reação drástica contra a Reforma Protestante e a perda de fiéis — a condenação dessas pessoas à morte foi a solução encontrada. Além disso, havia censura intelectual, ou seja, submissão da produção literária à censura prévia do Tribunal da Santa Inquisição. O absolutismo ascendia e os reis podiam fazer o que bem entendessem.



A pessoa acima parece familiar? Acredite ou não, mas na tela A Cigana, de Frans Hals está retratada a Mona Lisa, mas sem a placidez e o equilíbrio clássico. Na tela acima, Mona Lisa é pobre, tem a cara torta e um olhar muito mais humano. Ao fundo, só a parede escura e mais nada, passando a ideia de dúvida.

O fundo escuro é uma constante nas telas barrocas, por caracterizar o centro do entendimento da escola barroca: o desequilíbrio, a angústia, a insegurança e a dualidade. Muita dualidade. O culto do contraste (não só de cores): Bem X Mal, Deus X Diabo, Céu X Terra, Pureza X Pecado, Alegria X Tristeza, Paganismo X Cristianismo, Espírito X Matéria e a preferência por aspectos dolorosos, cruéis, sangrentos, repugnantes miséria da condição humana.

A ronda noturna, Rembrandt

Nossa Senhora dos Palafreneiros, Caravaggio

A Infanta, Diego Velasquez

Na Literatura, aparecem poemas religiosos e arte e Igreja voltam a se conectar. O Barroco, porém, dá continuidade ao estilo da Antiguidade Clássica, porém apresenta maior dinamismo, dramaticidade, exuberância e realismo. A seguir, algumas características:

  1. Fusionismo: A tentativa de fundir em um só conceito elementos tido como inconciliáveis: Sagrado X Profano, Humano X Divino, Claro X Escuro, entre outros.
  2. Feísmo: Valorização do trágico, do cruel, da miséria humana, do grotesco, sofrimento.
  3. Culto do contraste.
  4. Pensamento cristão volta à evidência.
  5. Humanização do sobrenatural.
  6. Pessimismo, visão lúgubre do mundo.
  7. Intensidade, exagero, emoções fortes.
  8. Culto da solidão.
  9. Linguagem trabalhada e culta, paralelismo.
  10. Cultismo: Valorização da imagética e figuras estilísticas como: prosopopeias, metáforas, sinestesias, aliterações, hipérboles e metonímias.
  11. Espiritual vs Material

Vertumnus, Arcimboldo

A uma Ausência
Sinto-me, sem sentir todo abrasado 
No rigoroso fogo que me alenta; 
O mal que me consome me sustenta, 
O bem que entretém me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado, 
O que mais perto vejo se me ausenta, 
E o que estou sem ver mais me atormenta; 
Alegro-me de ver atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio, 
No mor risco me anima a confiança, 
Do que menos se espera estou certo.

Mas, se de confiado desconfio, 
É porque, entre os receios da mudança, 
Ando perdido em mim como em deserto. 


O soneto acima é considerado um jogo de oposições, sem nem falar no sofrimento expresso no texto, o feísmo na poesia — o Classicismo teria desprezado.

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